Olimpíada de Língua Portuguesa/2012



Amizade para sempre*

Os gaúchos estão muito acostumados a práticas e costumes tradicionais bem particulares, com Angela Rodrigues, não é diferente. Com 44 anos de idade, conta alegremente como foi o início do C.T.G. Caudilho Guaibense, localizado na Cohab, nosso bairro aqui em Guaíba, Rio Grande do Sul.
Descreve desde a sua fundação, em 18 de julho de 1990, a partir de um grupo composto por 14 tradicionalistas, moradores da comunidade, que tiveram duas reuniões para tratar qual seria o nome do Centro de Tradições, em que lugar - e como- iria ser erguida a sede, entre outras coisas.
O C.T.G. é representado por uma bandeira com três listras nas cores: amarela, verde e vermelha - as mesmas da bandeira do nosso estado - e nela está escrito, em letras grandes, o nome Caudilho, com a letra “c” representada por uma ferradura e a palavra Guaibense, formada com o aspecto de uma corda de boleadeira. Dois instrumentos muito utilizados nas lidas campeiras das estâncias de antigamente.
Até o hoje, o C.T.G. teve 22 patrões. O patrão têm a função de coordenar todas as atividades do Centro de Tradições, como invernadas, grupos mirins, juvenis, adultos e chirus (grupo formado por componentes mais velhos) que fazem as apresentações nos festivais.
Angela conta que os bailes de antigamente eram muito bons porque vinham pessoas de outros Centros de Tradições e outras regiões do estado. A cada mês, eram bailes sempre lotados e os grupos musicais que animavam eram sempre de boa qualidade, aliás, como continua sendo até hoje. Outra coisa boa nos bailes é a presença de pessoas de todas as faixas etárias: crianças, idosos, adultos, todos podem participar.
As roupas usadas pelos frequentadores dos Centros de Tradição não mudou de lá pra cá: a tradição é o gaúcho usar bombacha, botas, camisa, lenço no pescoço e as prendas usam vestidos rodados e enfeitados com rendas e fitas, tudo dentro da tradição.
 Muitas pessoas da comunidade, como eu, frequentam o Caudilho Guaibense há pouco tempo, outras frequentam os grupos de dança há muito tempo como Angela Rodrigues e sua filha, que iniciou na categoria mirim e atualmente está na juvenil. As duas podem contar histórias de muito tempo atrás.
Como participava sempre das atividades, Angela, teve a ideia de trazer sua filha, Marcelly Rodrigues, para também frequentar o C.T.G. desde os sete anos de idade. Angela ficou maravilhada e hoje, diz que adora fazer parte desta família e tem orgulho de que a filha sinta o mesmo. Elas frequentam juntas o Caudilho Guaibense, onde a convivência entre o pessoal, como em toda família, tem seus problemas que, com respeito e cordialidade foram sempre resolvidos.
Em todas as datas comemorativas da região, desde 1990, o C.T.G. Caudilho Guaibense tem feito apresentações: são invernadas para comemorar, por exemplo, o Dia dos Pais, Dia das Mães, Páscoa ou Natal. As invernadas sempre participaram de festivais, rodeios e já ganharam muitos deles. Muitos troféus foram ganhos e a emoção, a cada invernada, é grande porque as apresentações são o resultado de muito ensaio para conseguir a vitória que é comemorada com gritos, pulos e abraços de alegria. Tem sido sempre assim.
Porém, no último festival, em cinco de agosto deste ano, que aconteceu no C.T.G. Amaranto Pereira, em Alvorada, houve a perda de um grande parceiro de dança, que fazia parte do grupo juvenil. Logo depois da apresentação, na qual demonstrava fazer o que gostava, acreditando na vitória do grupo, Felipe ria muito, enquanto eram tiradas fotografias. Logo em seguida, Felipe da Silva Pereira, com apenas 15 anos de idade, caiu no chão: teve uma parada cardíaca fulminante. Ele foi levado para o hospital, mas, morreu no caminho. Pouco depois, ainda no acampamento, os outros membros do grupo souberam da morte do amigo por telefone.
Neste dia, a dor foi muito grande e o festival acabou. Tristes, todos voltaram para Guaíba, para a sede do C.T.G., lugar de tantas comemorações e alegrias e que também seria o lugar do velório, sem os pulos e gritos de alegria, só os abraços de consolação.
No outro dia, a família do Felipe e todos os amigos do C.T.G. acompanharam o enterro. Sete dias depois, a missa em sua homenagem também foi na sede do Caudilho Guaibense. Foi uma perda muito grande para o grupo. Mas a história do C.T.G. Caudilho Guaibense e das tradições que o Felipe tanto gostava, segue honrando a sua lembrança.
E voltamos a ensaiar, no dia 24 de agosto, sem ele, que tinha o honroso título de "2° guri da 1° Região Tradicionalista".

Ingrid Schneider Nunes
Agosto/2012
* Texto com a segunda colocação na etapa escolar.

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