Amizade
para sempre*
Os gaúchos estão muito acostumados a práticas e
costumes tradicionais bem particulares, com Angela Rodrigues, não é diferente.
Com 44 anos de idade, conta alegremente como foi o início do C.T.G. Caudilho
Guaibense, localizado na Cohab, nosso bairro aqui em Guaíba, Rio Grande do Sul.
Descreve desde a sua fundação, em 18 de julho de
1990, a partir de um grupo composto por 14 tradicionalistas, moradores da
comunidade, que tiveram duas reuniões para tratar qual seria o nome do Centro
de Tradições, em que lugar - e como- iria ser erguida a sede, entre outras
coisas.
O C.T.G. é representado por uma bandeira com
três listras nas cores: amarela, verde e vermelha - as mesmas da bandeira do
nosso estado - e nela está escrito, em letras grandes, o nome Caudilho, com a
letra “c” representada por uma ferradura e a palavra Guaibense, formada com o
aspecto de uma corda de boleadeira. Dois instrumentos muito utilizados nas
lidas campeiras das estâncias de antigamente.
Até o hoje, o C.T.G. teve 22 patrões. O patrão
têm a função de coordenar todas as atividades do Centro de Tradições, como
invernadas, grupos mirins, juvenis, adultos
e chirus (grupo formado por componentes mais velhos) que fazem as apresentações
nos festivais.
Angela conta que os bailes de antigamente eram
muito bons porque vinham pessoas de outros Centros de Tradições e outras
regiões do estado. A cada mês, eram bailes sempre lotados e os grupos musicais
que animavam eram sempre de boa qualidade, aliás, como continua sendo até hoje.
Outra coisa boa nos bailes é a presença de pessoas de todas as faixas etárias:
crianças, idosos, adultos, todos podem participar.
As roupas usadas pelos frequentadores dos
Centros de Tradição não mudou de lá pra cá: a tradição é o gaúcho usar
bombacha, botas, camisa, lenço no pescoço e as prendas usam vestidos rodados e
enfeitados com rendas e fitas, tudo dentro da tradição.
Muitas pessoas da comunidade, como eu, frequentam o Caudilho Guaibense
há pouco tempo, outras frequentam os grupos
de dança há muito tempo como Angela Rodrigues e sua filha, que iniciou na
categoria mirim e atualmente está na juvenil. As duas podem contar histórias de
muito tempo atrás.
Como participava sempre das atividades, Angela,
teve a ideia de trazer sua filha, Marcelly Rodrigues, para também frequentar o
C.T.G. desde os sete anos de idade. Angela ficou maravilhada e hoje, diz que
adora fazer parte desta família e tem orgulho de que a filha sinta o mesmo.
Elas frequentam juntas o Caudilho Guaibense, onde a convivência entre o
pessoal, como em toda família, tem seus problemas que, com respeito e
cordialidade foram sempre resolvidos.
Em todas as datas comemorativas da região, desde
1990, o C.T.G. Caudilho Guaibense tem feito apresentações: são invernadas para
comemorar, por exemplo, o Dia dos Pais, Dia das Mães, Páscoa ou Natal. As
invernadas sempre participaram de festivais, rodeios e já ganharam muitos
deles. Muitos troféus foram ganhos e a emoção, a cada invernada, é grande
porque as apresentações são o resultado de muito ensaio para conseguir a
vitória que é comemorada com gritos, pulos e abraços de alegria. Tem sido
sempre assim.
Porém, no último festival, em cinco de agosto
deste ano, que aconteceu no C.T.G. Amaranto Pereira, em Alvorada, houve a perda
de um grande parceiro de dança, que fazia parte do grupo juvenil. Logo depois
da apresentação, na qual demonstrava fazer o que gostava, acreditando na
vitória do grupo, Felipe ria muito, enquanto eram tiradas fotografias. Logo em
seguida, Felipe da Silva Pereira, com apenas 15 anos de idade, caiu no chão:
teve uma parada cardíaca fulminante. Ele foi levado para o hospital, mas,
morreu no caminho. Pouco depois, ainda no acampamento, os outros membros do
grupo souberam da morte do amigo por telefone.
Neste dia, a dor foi muito grande e o festival
acabou. Tristes, todos voltaram para Guaíba, para a sede do C.T.G., lugar de
tantas comemorações e alegrias e que também seria o lugar do velório, sem os
pulos e gritos de alegria, só os abraços de consolação.
No outro dia, a família do Felipe e todos os
amigos do C.T.G. acompanharam o enterro. Sete dias depois, a missa em sua
homenagem também foi na sede do Caudilho Guaibense. Foi uma perda muito grande
para o grupo. Mas a história do C.T.G. Caudilho Guaibense e das tradições que o
Felipe tanto gostava, segue honrando a sua lembrança.
E voltamos a ensaiar, no dia 24 de agosto, sem
ele, que tinha o honroso título de "2° guri da 1° Região
Tradicionalista".
Ingrid Schneider Nunes
Agosto/2012
* Texto com a segunda colocação na etapa escolar.
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