CONTEÚDOS DE AULA

ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL SANTA RITA DE CÁSSIA
Disciplina: Português - Professora: Cármen Machado - 7ª. Série/12 - 2º. Trimestre

Olimpíadas de L.P./12


Da lamparina à energia elétrica
Tarine Silva Ribeiro

O sítio da vovó Valdenice fica em São João de Iracema, num lugar muito bonito, e o melhor de tudo é que é pertinho da cidade. É para lá que eu vou nos finais de semana. No sábado passado, eu resolvi ir ao sítio à noite. Eu já tinha atravessado a porteira quando, de repente, a luz se apagou...mas pernas pra que te quero! Ao perceber que eu tinha medo de escuro, vovó caiu na risada e resolveu me contar sobre a sua infância, onde apenas uma lamparina e a lua brilhante iluminavam a singela casa de pau a pique onde morava com sua família. “O escuro não me amedrontava, só incomodava um pouco na hora de ir para a privada que ficava afastada da casa: eu tinha receio de cair no buraco.”
Eu nasci e fui criada na nossa pequena e sossegada São João de Iracema, mais precisamente onde o Judas perdeu as botas, na calorenta região noroeste do Estado de São Paulo. Antigamente, nossa cidade era conhecida como “Os Poços”, devido aos boiadeiros que aqui passavam para abastecerem-se de água e refrescarem-se do calor do sertão agreste.
Na vila, a criançada só cuidava de duas coisas: brincar e aprender. Eu nunca mais consegui me esquecer do dia emque a ranzinza da professora me colocou ajoelhada em cima dos grãos de milho e me deu dois tapas na orelha. Que dureza era estudar naquela época!
Nas ruas de terra esburacadas eu me sentia livre e feliz. Divertia-me jogando terra em quem passava, depois caía na gargalhada. Como naqueles tempos todo mundo era amigo de todo mundo, as caras feias eram raras. Quando eu sentia o cheiro bom da comida feita por mamães no fogão a lenha, ia correndo para casa encher a barriga. Que delícia!
O tempo foi passando devagar, pois aqui até o vento sopra lentamente... A vila foi virando cidade e as casas de pau a pique foram sendo derrubadas e substituídas pelas de tijolos. Os moradores faziam mutirão para ajudar. Em 1966, eu já estava com meus 12 anos, quando a cidade acordou diferente: para meu espanto e de toda a população a energia elétrica havia chegado! Foi um alvoroço, era o fim das lamparinas! Mais do que depressa o meu pai Ezequiel fechou a barbearia e foi o primeiro morador da cidade a ir até Fernandópolis comprar um liquidificador e uma televisão.  A casa dos meus pais tornou-se a novidade do momento e ficou movimentadíssima: toda hora os vizinhos queriam usar o
Liquidificador para bater sucos e assistir à televisão.
A danada da televisão era em branco e preto e só pegava um único canal. Quando ela resolvia sair do ar o pessoal ficava vendo listras por um tempão; nem colocar bombril na antena resolvia. Meu pai faleceu bem velhinho e em homenagem ao morador antigo o nome Ezequiel Pinto Cabral foi colocado na rua onde eu passei a minha infância, bem em frente à praça da igreja matriz. “Encho-me de saudade toda vez que passo por essa rua.”
Após abrir o seu coração, vovó, emocionada, me disse: “É, minha neta, apesar de ser do tempo da lamparina, eu jamais poderia esquecer as recordações que ficaram na minha mente até hoje”.
Nós sorrimos e ficamos abraçadas por um longo tempo. Desde então, perdi o medo do escuro e percebi que apesar de a minha cidade ser simples e pequena no tamanho, com seus um mil oitocentos e cinquenta habitantes, ela é grande no meu coração e inesquecível na mente dos moradores.

Tarine Silva Ribeiro.
Texto produzido em 2004 quando era aluna da
4ª- série da E. E. Professora Joanita B.B.Carvalho,
São João de Iracema– SP. Baseado na entrevista com Valdenice Cabral Minales Satin, 51 anos.


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ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL SANTA RITA DE CÁSSIA
Disciplina: Português - Professora: Cármen Machado - 7ª. Série/12 - 2º. Trimestre

Atividade integrante para a Olimpíada de L.P./2012

Em relação ao texto “Da lamparina à energia elétrica”, escrito por Tarine Silva Ribeiro, após fazer uma leitura silenciosa e atenta, responder as questões de forma completa observando o seguinte:


1)      O texto é composto por oito parágrafos sendo que, entre o primeiro e o último, ocorre o relato de fatos da............................. ...  da  avó da narradora.
2)      Por qual motivo a avó resolveu contar os fatos de sua infância à neta?
3)      A partir do segundo parágrafo, a maioria dos verbos encontra-se no passado? Por que isso ocorre?  Justifique sua resposta copiando do texto pelo menos 5 orações com verbos conjugados nesse tempo.
4)      Que expressões podem ser destacadas do texto, além dos verbos no passado,  e que também dão a ideia de que a narrativa refere-se a coisas ocorridas há muito tempo?
5)      A narradora aponta em suas memórias fatos que marcaram a transição para um ritmo de vida mais “moderno” na cidade de São João. Que fatos foram esses?
6)      É possível dizer que, a partir do relato da avó, houve uma mudança no comportamento da menina que ouviu a história? Que mudança foi essa?
7)      Para a vó, “abrir o baú de memórias”, a partir do medo que a menina sentia do escuro, tive sobre ela um efeito positivo ou negativo? Justifique sua resposta.
8)       O conhecimento de fatos do passado fez com que a menina tivesse uma mudança no seu comportamento. Isso prova que conhecer o passado pode promover em nós novos sentimentos, reações e comportamentos, não só em relação a nós mesmos quanto em relação às pessoas mais velhas ao nosso redor e ao tempo em que elas viveram no passado. Você concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta.
9)      Já ouviu a expressão “colocar Bombril na antena” alguma vez? O que isso significa? Eis uma boa oportunidade de, para quem nunca ouviu falar nisso, achar na família um  “baú de memórias” para abrir e descobrir.*
10)   Em tempos de LCD, LED, notebook, tablet, banda larga, wireless... como você acha que seria viver com  uma televisão sintonizando apenas um canal? Pense a respeito.*.

* Atividades para serem desenvolvidas em forma de trabalho em encontro posterior.